E o circo..

...que represento é a metáfora da minha própria trajetória nessa vida.. é esse o espirito do artista que incorporei: o mambembe em sua essência. aquele único ser capaz de desprender-se das referências e optar por viver no não pertencimento..
nesse mundo onde crescemos e aprendemos a lutar para pertencermos a um grupo, comunidade, cidade, região, família, religião, partido.. eu quero o não pertencer..
E o espírito do circo traduz essa liberdade: chegar e partir.. pertencer e não pertencer..
círculo: símbolo da vida-morte-vida.. o estado cíclico de morrer e renascer em muitos outros lugares.. o disco está pronto. estou no fim de um ciclo.. mas o carrossel vai girar de novo... e chegará a hora em que o circo aportará nos corações das cidades..
e a primeira será.. aracaju!

O Hiato II

voltei às palavras por um ato simbólico: hoje é o último dia da mixagem.. o disco está quase pronto.. falta a flauta de ciano, do quinteto violado, arrumar o violão de roberto menescal, masteriazar e prensagem..ufa! nesses dias, a deusa música governou a minha vida, meus horários, minha atenção e a vida de todos os envolvidos nessa saga.. mas nem tudo foi tão místico.. por aqui, tudo é tão técnico! e pude experienciar esse atravessar de pontes que a cidade de recife me impõe: de um lado, o mistério da criação, de compor, juntar as partes, de entregar-se ao mundo das idéias, à poesia, à lírica.. do outro, as ferramentas, as naus, as possibilidades, a tecnologia, o conhecimento. e agora, cheguei até aqui.. o percurso de uma mambembe.. deixei uma vida pra trás, para estar aqui.. chegar onde cheguei.. tive que "morrer" para tudo que deixei.. para tudo que fui como artista, indivíduo.. deixei um lar, meu filho no Rio, perdi meu doce amor, para outra cidade, minhas coisas todas espalhadas por outras casas.. aos poucos e profundamente, fui mergulhando nesse novo personagem, que vai sair pelo mundo a contar suas histórias.. e esse personagem.. sou eu mesma..

O Hiato

Estou agora me redimindo com as palavras...minha última postagem foi em 17 de julho... estava começando a gravar..de lá pra cá, a natural hibernação provocada pela vivência no estúdio se apoderou de mim e todas as outras necessidades como escrever, namorar, cozinhar, foi ficando distante de minha realidade.. não. não vou justificar minha preguiça macunaímica.. é claro que eu poderia fazer um esforço, de escrever todos os dias, as etapas da gravação.. a chegada das violas caipiras de juliano holanda, substituindo o violão..a participação do maestro vira lobo, joão do cello.. cello lindo e poderoso em "olhai o tempo do interurbano".. a presença de pedro mendonça no disco.. com suas inusitadas panelas sonoras, instrumento criado por ele, especialmento para "O Circo.." a experiência da voz.. as soluções encontradas.. as descobertas, a produção esmerada de areia, a dedicação do técnico rodrigo araújo.. duarante todos esses dias intensos de trabalho operário e musical, não despertei minha caligrafia.. eu me dediquei apenas à vivência, e não ao registro dela.. mas as imagens do processo estão guardadas.. num projeto paralelo de imagem e documento: o make off do disco..

START...Conhecendo o Mundo Livre..

Cheguei na sexta feira, dia 10.. e já estava de pé, na manhã do dia seguinte, no estúdio.. quando cheguei, já estava o trio lá: areia, rodrigo e chefe tony.. este último, irmão de fred 04, é baterista do mundo livre..

eu cheguei meio sem jeito e sem saber por onde começar, areia quem comandou todo o tempo a sessão.. "vamos ouvir aquelas guias que vc tem gravadas aí.." e partimos para a primeira audição em grupo, do "trabalho de pré-produção", que nada mais era que o cd demo... "vamos gravar bateria..." ele decidiu começar ali mesmo.. sem firulas nem ensaios..

eu estava sob efeito de tudo que o estúdio me inpira: experimento, adrenalina, pressão do tempo e do metrônomo.. a matemática pura se desenvolvendo ali.. o estúdio é, sem dúvidas, meu melhor parque de diversões.. e areia sabe, como ninguém, brincar nele.. e chefe tony.. céus! que precisão.. o cabra é bom! e faço questão de endossar essa lenda urbana: chefe tony pôs a bateria do disco inteiro em dois dias..

começavam, ali, essa e muitas outras surpresas..

O Pai e a Terra..

resolvi adiar minha ida pra recife por mais um dia, para estar um pouco mais com meu pai.. recebi seus cuidados e ele me ouviu as histórias, os planos, as boas novas.. repetiu muitas vezes que se sentia orgulhoso.. jamais poderia voltar pra recife, para adentrar, de fato, em minha iniciação, sem essa benção.. sem meu coração limpo.. me reconciliar com meu pai, foi como me reconciliar com sergipe: herança dele pra mim.. nada mais posso querer dele: ele me deu um nome para honrar, um ofício para cuidar e essa terra, pra me amostrar..

nos despedimos na rodoviária emocionados e satisfeitos um com o outro.. e segui adiante, com a missão.. sem mais aquela sensação de desamparo.. é bom ter um pai..

o show..

subi pra cantar totalmente gripada, entupida e com febre.. mas a voz chegou e eu quase chorei diante desse mistério.. o DOM! muito grata, meu deus! o show foi lindo! e apesar de não termos ensaiado, foi muito preciso..estamos entrosados.. definitivamente essa é a minha equipe pra executar a turnê do projeto.. mas ainda faltam componentes: um técnico de som, um roadie e um segurança, pra espantar os exus do camarim!

Dia do Show..

Rumamos pra são cristóvão no carro de débora.. nossa.. dirigir me faz um bem! pegamos a estrada joão bebe água.. linda e perigosa, como toda mulher deveria ser..aquilo me ajudou muito no meu processo de cura.. o sol bonito..dirigir na estrada.. cheguei leve pra passagem de som.. aquela coisa.. sempre um desrespeito, sempre.. isso não muda. mas eu estava misteriosamente gentil e calma.. me entreguei ao universo e tudo àquilo que a missão representava.. hoje, tenho a sorte de contar com uma equipe maravilhosa. os músicos: pedrinho mendonça, dudu prudente, emanuel jorge e saulinho.. impecáveis, lúcidos, pacientes.. sou só elogios pra vcs, meus meninos.. que mesmo sem ensaio, mandaram ver! débora bahia: chique e precisa. vinícius xingó e seu olhar, sua generosidade.. toda equipe de ricardo sá, que faz meu som brilhar em tudo.. mikeline.. sem comentários.. perfeita. A presença do dia ficor por conta da presença surpresa de meu pai.. caraca!! tremi toda! que susto! não nos falávamos desde janeiro!! foi massa entrar no altr com meu coração limpo e cheia das bençãos!!

Terra à Vista!!

Cheguei em aracaju e não senti nada..depois de tantas idas e vindas, a sensação foi neutra, como se eu estivesse numa cidade a mais..mas me senti em casa, e isso é bom. não tive tesão de ir ver o mar, a praia..estava absurdamente enjoada pela gripe.. sem teto, total, elegi a pousada relicário como meu novo lar, na cidade.. não consegui chegar a tempo pro ensaio..mas confio nos meus meninos..

"meu coração sangrando..no rio vermelho.."

mikeline foi perfeita, como sempre..com os cuidados..botei tudo pra fora: as angústias, o catarro.. Salvador tem esse dom de me reconectar com o espírito.. um dos lugares onde a alma volta pro corpo.. ou sai e não volta nunca mais..rezei e rezei e fiquei quase boa.. o corpo ainda não responde, nem a voz.. a ansiedade agora é outra: será que vou conseguir cantar nesse show?

Convite Inesperado..adoeci em olinda..

Recebi a confirmação do show em Sergipe.. festa para comemorar o Dia da Sergipanidade, na cidade de São Cristóvão.. que bom! que tom simbólico! propício. grana.. vou num bate e volta.. Débora Bahia cuidando de tudo.. quem tem a bahia no nome, só pode ter mesmo muito axé.. mas a verdade é que realmente caí..baixa resistência, dor, febre, calafrios..que estranha sensação de desamparo.. o que mais me incomoda nessa situação é de estar longe de casa (????), da família, de qualquer ser pra chamar de seu.. Adoeci em Olinda.. no dia em que percebi, quase nem levantava da cama.. de tanta tontura que dava.. engoli um comprimido e fui tomar o famoso caldinho de feijão com tudo dentro, da pracinha do carmo.. aquele levanta até defunto! suei..suei..suei.. deitei e dormi.. o pior são os sonhos.. tenebrosos! minha mãe monitorando tudo, via embratel.. acordei no dia seguinte, convicta de que precisava voltar pra algum lugar.. um lugar onde eu pudesse ser cuidada.. salva.. então.. fui pra salvador..

A Casa da Moeda.. Estação das Artes..

A primeira vez que visitei o ateliê de Sérgio Alterkirch, proprietário do melhor bar do recife antigo, a casa da moeda, tive a impressão de estar em casa, em família.. Impossível não lembrar de Carlor Ruiz, de Joubert Moraes.. por toda a parte, esculturas de sucata, madeira de demolição e resina.. num imenso galpão centenário, de assoalho e pé direito altíssimo, o borburinho que vem da rua em frente, nunca atrapalha.. qualquer som, até o do caos do recife antigo, quando entra naquele ambiente, reverbera pelas peças metálicas presas na parede..despertando novos instrumentos..nos fundos, funciona um espaço que é um anfiteatro, onde acontecem ensaios abertos e teatro transgressor.. na galeria tem um bar, adornado por balcão e messas feitos pelo artista.. aliás, tudo por lá é uma obra de arte, o que produz uma sensação engraçada de medo de deixar qualquer coisa por sobre as mesas..elas também são suas esculturas.. num mezanino está instalado um laboratório de animação.. o que aciona automaticamente a idéia de complexo multimídia.. foi lá, que eu psicografei o texto sobre a bandeira de pernambuco.. e foi lá que eu comecei a adoecer..

Sobre o Estudo das Bandeiras...

A bandeira de Pernambuco, meu deus! como é mística! No horizonte, um astro meio sol, meio lua.. e a estrela ao alto, indicando o reto caminho em direção ao céu.. A presença lúdica de um arco-íris, que cruza de um mundo ao outro, deixa uma pista, não me deixa dúvidas: essa cidade é regida por Oxumaré. Já desconfiava disso, vendo as sinuosas divisas dos rios, do alto da janela do avião.. sobretudo, recife é adornada de serpentes fluidas. Ora, se sabe que o mito Oxumaré é a serpente de sete cores: daí, o arco-íris abençoando a bandeira... Abaixo, no solo branco, a cruz me conecta à idéia do messias.. o mensageiro sobre a terra... E novamente me vem a lembrança do que foi aqui Chico Science, enquanto profeta da sua geração e de muitas outras que virão e verão... Só havia visto uma bandeira com tantos símbolos, significados e identidade: a bandeira do brasil.. Descobri, então, que num estudo sobre as cidades há um pré requisito: o debruçar-se por sobre os símbolos de sua bandeira... e reverenciar os seus profetas..

"ò linda situação para uma vila!"

Estou cada vez mais apaixonada por Olinda! O casario colorido, as ruas de pedra, os ateliês espalhados por todos os cantos, os tambores de maracatu tocando ao longe.. tudo isso me traz reminiscÊncias tão familiares.. aqui, consigo me reconectar com a minha memória musical, com a minha arte.. definitivamente, Olinda é um bom lugar pra chegar, pensar, respirar..
" A perseverança de uma pessoa solitária é favorável.."
" Através do progresso chega-se, com certeza, ao lugar que nos é adequado.."
relendo essas frases do último hexagrama que tirei antes de vir, "A jovem que se Casa", é que pude perceber o quanto estava certa em minha intuição, minha escolha. Meu caminho..
O I Ching ainda é meu mapa, minha bússola e principal oráculo nessa trajetória..

rios, pontes e overdrives..

Recife é antiga, densa, meio suja, contemporânea.. me encontro nesse espírito.. o que essa cidade quer comigo? Iniciei hoje meu conceito sobre o Estudo das Cidades..
Essa é terra de índio brabo, desconfiado.. ah, e todos aqui amam o Chico Science: do menino de rua ao taxista.. do jovem revolucionário ao flanelinha que passa a coisa.. todos amam o profeta.. ou seja, ele cumpriu sua missão. e a cidade tem muito orgulho dele.. esculturas de chico science se espalham por toda parte: grafites e souvenirs. geralmente, sua imagem tem uma pata de caranguejo.. um barato místico.. Aqui, chico science já virou santo.. gosto tanto disso.. e enquanto penso nele, o barquinho e seu pescador solitário vão sumindo no capibaribe.. e a cidade vai ascendendo suas luzes.. ela realmente não pára..
Ah, Recife, nem sei porque fui também escolhida assim.. acolhida aqui.. mas uma coisa é certa: eu já estava nisso tudo, desde sempre..

01 de julho..

Nem sei porque escolhi Recife, mas sinto.. me identifico com a solidão desse pescador e seu barquinho a motor, cruzando o capibaribe.. sou como ele: também estou só, atravessando de um lado à outro, atrás de meu sustento.. mas tem uma outra explicação, a primeira de todas: o estúdio fica num endereço curiosamente familiar.. rua vale do serigy.. que mania essa obssessão pelo cacique! mas de uma forma misteriosa ele me trouxe até aqui. pra um lugar escondido das maldiçoes..

30 de junho.. cheguei..

À noite, fui assistir ao epetáculo de dança contemporânea "LEVE", do COletivo Lugar COmum, de Recife.. Isaar compôs a trilha sonora (impecável e delicada). Ela inseriu, para fechar o espetáculo, "PARA O INFINITO". Foi arrepiante ouvir uma canção minha na voz desta que é uma das mais singulares vozes da nova música brasileira, com arranjo mágico para baixo e violão. só um detalhe me decepcionou: meu nome não aparece nos créditos, apesar de algumas frases da música irem até no flyer.. nem nos agradecimetos.. Produção cuidadosa, mas desatenta.. magoeei um pouco, afinal, quando cedemos os direitos da obra, sem cobrar nada, o mínimo de contrapartida que um autor pode querer é ver seu nome associado à ela.. apesar de toda delicadeza de isaar, em me aapresentar à todos como a autora da canção final (muito elogiada, por sinal), ficou um clima de constrangimento no ar.. e toda a delicadeza foi pelo ralo.. não toquei no assunto com isaar mas seus olhos imensos e profundos denunciavam essa pequena injstiça para comigo.. mas continuo amando essa mulher cantante, ainda assim..

30 de junho..chegando..

...e me mandei pra recife, para minhas merecidas férias pré-estúdio, de uma semana...
Direto pra Olinda. pousada/casa de hilton. figura. tinha até uma plaquinha na porta, feita à mão: "reservado para patricia polayne, aracaju.." me senti prestigiada.. sem falar do taxista que me levou do aeroporto até a pousada.. um verdadeiro professor de história.. contou muitas delas: dos índios, da formação da cidade, dos nomes curiosos dos bairros do recife, do nome de olinda.. "ò linda situação para uma vila..!", até mostrou o lugar exato onde chico science bateu seu carro.. seo guimarães me conquistou.. realmente é um privilégio chegar tão bem chegada.. sinto as primeiras portas se abrindo..

os instrumentos...

O baixo é Areia.. Júnior Areia.. baixista do mundo livre s/a.. ele vai fazer a produção musical.. ficará a critério dele completar esse power trio.. mas uma coisa é certa: a guitarra é fundamentalmente importante.. sonoridade agreste, seca.
Ai, como eu quero que essa guitarra capte meu espírito saruético.. estranho, mas delicado.. sou um ser sertânico..

Confesso que ainda estou com muito medo de me lançar nesse abismo fundo e escuro que se chama primeiro disco.. Não tenho sentido aquela ansiedade típica de quem pratica um ato de felicidade..

Acho que esse parto será bem dolorido.. quase à fórceps.. Ainda bem que tenho essas canções.. boas companheiras.. tenho fé na poesia que tiro da cartola. E é isso que me conforta.. Estranhamente.. como uma força que precisa chegar..

e vamo que vamo!

os instrumentos...

O cello é uma marca. Desde que estreei como compositora com "Camará". É um instrumento mágico, muito semelhanteà voz humana.. não poderia ficar de fora.. para executá-lo, por indicação do Jeff, do Fábrica, penso em convidar o João do Cello, de REcife. Ele já tocou com OttO. Dizem que o cara é super criativo, louco e bom pracaraio.. Do jeitim que eu gosto..

A percussão também já tem dono: é o Pedro Mendonça.. Sei que em Recife existem grandes percussionistas mas esse cara conhece bem as canções, há anos e é quem me dá todo o feedback da Tradição, espírito tão importante para o conceito do disco..

O violão, decidi que eu mesma poderia me aventurar em uma ou outra faixa, já que conquistei a levada rítmica do samba de coco.. inventei uma pegada que não consigo ensinar.. e as baladas são tão facinhas.. dá pra fazer..

Diário de Bordo: O Processo...

Comecei bem tarde, é verdade.. Sempe fui lenta em tudo... Até para nascer.. Minha mãe me contou que eu nem sequer queria nascer.. Quando lhe abriram a barriga, eu tava lá dentro, dormindo.. Já nasci com essa preguiça do mundo.. Macunaímica..

Por ser tão lenta e preguiçosa, não tinha a menor idéia de como começar.. fazer uma pré-produção? pra quê, se eu ja tinha 90% do repertório gravado.. Então, decidi começar assim: listando as canções.. perguntei pra mim mesma: "quais as músicas que quero cristalizar dentro desse conceito: o circo..?"

Listei as canções, deixando duas faixas em aberto, para um fator surpresa, pois, tudo pode acontecer no meio do preocesso.. magias de estúdio..
depois, listei os instrumentos: power trio+complementos acústicos.. cello, violão e percussão.

referências...

miha categoria de cadência sucumbiu à efervescência cultural do rio de janeiro pós revolução..
e num penúltimo adeus, pude encontrar o mesmo olhar tranquilo que me fez acreditar nesse sonho, tão possível, quanto é essa cidade...
um ambulante vai cantando sua canção...
e ela me pergunta o que eu vou fazer no meio dessa confusão...
não sei.. vou só permitir que o redentor, o grande homem, mais uma vez, me receba assim:
de braços abertos...
de braços abertos...
de braços abertos...

O Laboratório

O show Aparelho de Memoriar já nasce como laboratório sonoro para o que virá a ser a Arte Final... Inicialmente concebido sob o formato de power trio (baixo, guitarra e bateria), a banda que me acompanha também tem a epifania ritmica do percussionista e experimentador pedrinho mendonça. O som ganhou grooves e timbres pertencentes à origem musical de todos...

saulinho, guitarra forjada no blues, virtuose e jovem o bastante para cometer todas as ansiedades possíveis, que seus dedos velozes captam e me repassam sem vacilar, nem se opor.
Digo às vezes à ele: quero uma guitarra econômica e minimalista..
ele olha, sorri, cita a semiótica e traduz o que eu pedi em timbragens maduras, setentistas.. na frente de seu tempo... eu tô gostando...

manu passou todos os ensaios dormindo, cansado das bandas eletrÔnicas de forró.. ele tem filhos e eu perdoo.. eu disse pra ele sobre o baixo acústico, que era o grande diferencial, em determinadas canções.. estude, cara.. vai ficar bonito.. e ele fez..

dudu.. cada vez melhor, cada vez mais a fim... agora incorporou de vez o inevitável: o sampler. claro que, no começo de tudo, torci um pouco o nariz e os ouvidos.. mas tÔ querendo mais, tá virando um viciozinho bom..

o pandeiro, a alfaia e a moringa de pedro realmente fez toda a diferença no som... pedro tem atitude..

tô curtindo a minha banda... essa banda, que daqui a pouco, pode sumir no ar...
mas vou guardar esses momentos, começando pela estréia do show, no teatro vila velha.. gravamos ao vivo.. que puta lembrança boa vamos guardar.. quero mais...

diário de bordo...

Hoje me perguntaram como será meu disco... Sobre esse assunto, só tenho uma certeza: se eu tentar agradar o mundo, vou desagradar Sergipe. Se eu tentar agradar Sergipe, vou desagradar de mim mesma... Meu primeiro disco não será ofertado à um público, nessa terra... e sim, às divindades no céu.. Sim, tenho o desejo secreto de que meu tambor primevo: o meu coração, chegue lá... Faça-se ouvir entre as estrelas... Não é arrogância. É devoção. Aos humanos, cabe a compreensão, a razão a análise crítica, as subjetividades de cada um. Meu som é objetivo, direto, com paradeiro certo e tem como causa: a transformação do espaço e do sentimento Por isso, meu primeiro disco quer chegar antes, ao agrado de quem me pôs em missão e movimento. À quem eu devo a minha arte e o Dom de cantar... Meu som tem que voltar ao ponto de ressonância de origem... E a minha verdadeira origem... Bem, essa aí já é outra estória...